Eu
fico ouvindo músicas, procurando imagens... relendo artigos sobre a época da
ditadura brasileira. Um período terrível de nossa história, que manchou a
política e desencantou toda uma geração que acreditava na possibilidade de uma
República Democrática, pautada no direito à liberdade.
Fico
perplexa com tudo, mesmo tendo se passado tantos anos...
Me
lembro que minha infância foi já no finalzinho deste período...na década de
setenta...onde meu pai ouvia “a voz do Brasil” e falava sobre política com
minha mãe... eu ouvia, criança
ainda...mas compreendia que estávamos sob um período tenso... onde o falar e o
agir, o pensar e o querer, só poderiam manifestar-se se fossem condizentes com
a ordem vigente.
Me
recordo do ano de 1985, da eleição pra presidente. Estávamos eu, meu pai e
minha mãe, assistindo a tv. Foi transmitida ao vivo a votação. Eu tinha uns
treze anos, e me lembro que meu pai e minha mãe ficavam eufóricos, cada vez que
o voto era dado à Tancredo Neves. Eu também ficava, já que aquilo pra mim
significava mudança e para melhor, pois se eles vibravam, então era pra melhor.
Mas
o tempo passou... eu fui crescendo e comigo a consciência crítica. Me lembro de
meu pai falando sobre política, participando de política, se candidatando...
convivendo no meio e eu sempre ali, querendo saber mais, entender mais de
política.
Esta
política que já nasceu manchada, decadente, obediente à uma ordem, sem escrúpulos e individualista...inimiga do coletivo.
Me
lembro que mesmo assim, eu queria aprender, queria viver aquilo, porque talvez
estivesse no meu sangue... no meu DNA...a tal da política.
Me lembro, depois de ter presenciado a subida de Collor após Sarney e sua descida cinematográfica, de
ter aprendido com o período de Itamar qual era o norte da política brasileira
(com prioridades sempre voltadas para a macro economia), e também, de ter visto FHC além de apropriar-se do
plano econômico que “deu certo” e de maneira arbitrária e totalmente antidemocrática
apoderar-se de mais um mandato...vender nossas estatais a preço de bana...
Me lembro de Lula, aquele operário (a minha cara ),
sujo, barbudo, sem um dedo, falando errado... se transformar completamente, se
“adaptar” ao meio e cumprir parte significativa de suas promessas, mas sempre
pagando preço alto pra conseguir colocar em prática seus discursos proletários..
me lembro de vê-lo entregar a faixa à Dilma...
mulher revolucionária... emotiva...mas sobretudo com grande capacidade
administrativa...mas diferente dos outros não se dobrou às estratégias desta
política de favores, consolidada desde a República velha...e por isso...foi execrada pelo parlamento, seguido pela classe média...Enfim, depois de
tudo isso... entendi que os políticos brasileiros não são sujos, ou vis (senso comum) como pregam tantos.
Os
nossos políticos seguem o curso natural de nossa cultura politica. Aquela que se formou desde o
primeiro Reinado após a independência. Uma política voltada única e
exclusivamente para atender aos interesses de uma classe que se formou às
custas de uma outra classe...que sua a camisa, que trabalha, que consome, que
faz a roldana girar...
Uma cultura política alheia à realidade brasileira. Aquele tipo de política realizada entre
quatro paredes, levando em conta a força partidária de situações e oposições...
Aquele
tipo de política parecida em termos, com a que praticavam na antiguidade clássica... onde existia a
democracia, mas quem a exercia eram os homens “bons”...patrícios... sendo que os plebeus, os homens livres, os escravos, as
mulheres, enfim, o resto da população jamais poderia cogitar em exercer...pois não tinham "qualificação" para tanto...
E
os nossos homens "bons" são nossos políticos. Os nossos patrícios, os donos de
nossa terra...são eles, os nossos políticos. Mas é ela, nossa política, quem decide entre “quatro paredes”, como será
a administração pública e o que ela irá priorizar.
É
óbvio que em época de eleições, os plebeus, os escravos, as mulheres, os homens
livres, terão sua participação, diferente da democracia clássica, mas que também
é uma espécie de aval (já que o regime pede), para que os homens "bons" possam
tomar as decisões por eles...O famoso “contrato” de Rousseau??
Mas
passadas as eleições, pra quê a massa? Pra quê? Senão para assistir os mandos e
desmandos de seus líderes que através da política, determinam o rumo do país...
Nossos
políticos não são maus. Isso é senso comum. Eles não são perversos. Não se
enganem. Eles apenas seguem o curso natural de nossa cultura política.
É
ela quem avaliza os senadores que entregaram o senado e o congresso nas mãos de
um bicheiro.
É
nossa política, a brasileira, que permite tanta corrupção, tantos desmandos por
parte de nossos políticos. Ela é assim...sempre foi. Quem não se enquadra, está
fora. Não fará parte do “bolo”...
E
aí a gente fica acusando esses “coitados” de cometerem crimes... de serem
desonestos...de corromper a Democracia.
Mas
até nosso judiciário avaliza nossa Demonioracia, nossa política...por que então culpar os políticos?
Se
nossa mídia trabalha para blindá-los...para protege-los.
Se
nossa polícia está a postos para atendê-los em caso de manifestações contra a
ordem vigente...
Se
nós…os eleitores , na hora do voto...reelegemos estes mesmos políticos que
pelos quatro anos seguintes, farão exatamente o que fizeram nos mandatos
anteriores...
Não
gente, os políticos não são culpados...
Culpada
é a política brasileira... os nossos políticos, apenas seguem sua vocação...