Aqui em Minas tem um ditado muito antigo e comum entre mineiros. Quando uma pessoa fala muito, reclama muito da vida, costumamos dizer que “ela fala igual ao pobre na chuva”. Alguns riem, outros concordam...mas a realidade é que existem poucos lamentos no mundo tão sofridos quanto o lamento de um pobre na chuva.
Já rendeu piada eu sei (dizem que pobre nunca tem nada, mas quando chove diz que perdeu tudo), e que rende boas gargalhadas nas rodinhas dos bares...
Mas, apesar do ditado, das piadinhas, a situação do pobre na chuva é lastimável.
Hoje acordei cedo e assisti na tv Record, uma reportagem sobre os alagamentos dos bairros Primeiro de Maio e Ribeiro de Abreu, que ficam próximos à Av. Cristiano Machado. E fiquei pensando: todo ano é a mesma coisa! É a mesmíssima situação. São pessoas que moram há anos e anos em áreas de risco e que todo ano passam pelas mesmas tragédias... sem qualquer perspectiva de um futuro melhor.
E aí, logo em seguida, anunciam que a câmara dos vereadores de Belo Horizonte, acabou de aprovar nas vésperas do Natal como presente do tal papai noel (em minúsculo de propósito), um aumento de 60% em seus gordos salários. Imagino felizes os vereadores, enquanto a população que os elegeu, luta para tirar de casa a lama, a água suja ao passo que conta com a ajuda de Deus para que seus filhos não venham contrair doenças incuráveis.
É revoltante! Os repórteres mencionam governos anteriores, dizendo que o governo atual pegou um “pepino”. Eu fiquei mais revoltada ainda. Como assim? Então todos os governos que por aqui passaram, de vereadores, prefeitos, governadores, senadores... pegaram o tal pepino e sequer fizeram salada dele? Então a coisa é assim. Este pegou um pepino, o próximo pegará o pepino do anterior...e o pepino continua circulando de mão em mão...e o povo mergulhado na lama, na sujeira...
Os repórteres disseram também que o povo joga lixo em bueiros... os chamaram de “mal educados”... é, mas o lixo no bueiro não é causa é conseqüência.
Conseqüência da "verdade que assombra e do descaso que condena", como bem disse Renato Russo. Conseqüência de uma política excludente, que há anos atrás, lá na década de 20, expulsou dos grandes centros o pobre, que “sujava a cidade”. Jogaram para os “bueiros” da periferia, pessoas que se viram obrigadas a se estabelecer em locais sem qualquer infraestrutura. Conseqüência da urbanização não planejada, da negligência dos governos, do descaso das prefeituras que insistem em jogar perfume na cidade, mas não lhe dão banho (como dizia meu velho pai já falecido).
E o que o papai noel tem com isso? Papai noel é o culpado de tudo. Ele representa os extremos das relações em uma sociedade humana. De um lado, pessoas felizes, programando um natal regado a vinho, espumante, com carnes suculentas, doces, presentes, árvores de natal... e do outro...ahhh e do outro este povo pobre, na chuva, chorando, enlameado, sem dignidade, sem perspectiva de vida, sem sequer uma satisfação por parte destes governos indecentes que sempre trataram a população mais carente como problema a ser ignorado e não resolvido.
Papai noel é o símbolo deste sistema vergonhoso, que conseguiu deturpar completamente o verdadeiro sentido do natal (Jesus, aquele que pregou no monte, aquele que era pobre e humilde e que amava os pobres e humildes, com certeza despreza este natal capitalista).
Mas a vida é assim... posso parecer pobre na chuva, mas só peço uma coisa: não me desejem “feliz natal... hôhôhô”...
Enquanto existir esta separação,esta desigualdade, não será possível existir Natal...
Não devemos culpar o sistema capitalista. Antes, o povo era mais pobre e os governantes ainda podiam ate transar com “as noivas” dos pobres e não tinha coração valente que pudesse mudar. Verdade também é que a vida é uma luta constante pra todo mundo e Jesus é considerado humilde porque ele amava também os ricos e os bem sucedidos na vida!
ResponderExcluirAnônimo, devemos culpar quem então? o povo? o pobre? Isto o próprio sistema que é pautado no mérito, desconsiderando completamente o contexto e a história de vida de cada um, o faz!!!!
ExcluirComparar a Antiguidade com o contexto de hoje é falacioso, uma vez que o sistema tal qual o é, foi consolidado séculos adiante!
Na antiguidade, até mesmo o status era definido pelo nascimento...fazendo da pobreza e a mobilidade social casos específicos.
Hoje, em nosso contexto "evoluído" e capitalista, o sistema consegue condenar à miséria milhares de vidas humanas, baseando-se num argumento falso de "livre concorrência" a qual submete seres iguais à tratamentos diferenciados baseados em uma série de preconceitos sociais, étnicos, de classe e por aí vai, esperando que este mesmo ser igual se vire em meio ao caos, para tornar-se "igual" a quem acredita ser superior.
afff... não compartilho com teu raciocínio e sinceramente, em relação a Jesus, em momento algum eu disse que ele amava o pobre por ser pobre... ele amava... muito diferente de quem compartilha do mérito para justificar tanta desigualdade.
Olá, Márcia, faço assessoria de imprensa para a Revista de História da Biblioteca Nacional e gostaria de incluir seu blog no nosso mailing, para que você receba informações sobre as edições e os eventos que a Revista promove. Caso tenha interesse, basta entrar em contato no email luana.rocha@belemcom.com.br. Abcs!
ResponderExcluirOlá Luana... claro que sim! Obrigada.
ExcluirAdorei suas filosofias, tem que falar mesmo, nos expressar! A expressão é da ALMA!
ResponderExcluirobrigada!
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