Como professora de história, fico me imaginando daqui a dez, quinze
anos em sala de aula.
Como vou explicar este tempo, num futuro incerto?
Incerto porque não sabemos hoje o que nos virá daqui a um mês, que dirá daqui a alguns anos, já que desde
o golpe contra o governo da Presidenta Dilma, o que experimentamos foi uma espécie
de hecatombe, anunciada, diga-se de passagem.
Não que estivéssemos indo maravilhosamente bem com o governo petista. Mas
sem dúvida alguma, qualquer outro governo fora o atual e o antecessor golpista,
supera qualquer desgoverno brasileiro ou até mesmo mundial, levando em conta o
saldo nefasto que estamos amargando desde que Temer e Bolsonaro assumiram o
governo, respectivamente.
Me lembro que há 13 anos, os comentários que permeavam minha linha do tempo
no facebook, eram sobre a crise imobiliária nos EUA e suas consequências para
aquele país e para os países da Europa, cuja economia dependia diretamente do
turismo. A Grécia que o diga, pois foi um dos países mais afetados. Aqui no
Brasil, falávamos e replicávamos a famosa “marolinha” , que “não daria nem
pra esquiar” como dizia Lula.
Mas não foi nem de longe uma marolinha. Não imaginávamos que seria uma
hecatombe e que uma década mais tarde, estaríamos diante de um governo que,
aproveitando-se das consequências da crise mundial, se vendeu às aspirações
mais nefastas do mercado internacional. Perdemos em pouco tempo, o que levamos
décadas e mais décadas para construirmos. Foi um desastre o que nos aconteceu.
Nem mesmo a chamada década perdida, com toda aquela instabilidade e aumento de
dívida interna e externa, promoveu tamanha desgraça ao nosso país, como tem
feito este governo. Antes estivéssemos convivendo com remarcações de preços,
com déficit de contas públicas, com precarizações de todo tipo, mas que de
algum modo, nos permitia acreditar que haveria em algum momento uma saída, como
ocorreu com o plano real, após vários planos falidos e malfeitos. Não. Este governo
que chamarei daqui em diante de desgoverno, não nos permite enxergar uma “luz”
lá no finalzinho do túnel! A causa ambiental, a indígena (absurdamente querem com uma MP estabelecer marco temporal, contra a própria constituição de 1988), a causa trabalhista, enfim, são ataques de todos eles, por todos os lados.
Seus ministros, sem exceção alguma, são de um primitivismo de fazer inveja a
qualquer protozoário (que me perdoem os protozoários por esta ofensa). Não
possuem qualquer organização, qualquer qualificação técnica, qualquer formação
ética, ou qualquer outro aspecto humano que determina a diferença entre um ser
racional e uma ameba.
Não possuem um projeto sequer. Não se organizam. Não são capazes de
comunicarem entre si, de tentar de algum modo compreender um ao outro para que
juntos, pudessem ao menos tentar se organizar em meio a tanto desmando.
E para piorar nossa desgraça, uma PANDEMIA que em qualquer outro país, por
mais pobre ou subdesenvolvido que seja, foi capaz de estabelecer o mínimo de
consenso entre os gestores públicos, no que tange a protocolos de higiene e
isolamento social. Mas aqui não. Aqui , nosso governo é pró-pandemia. Ele é
negacionista. Se apresenta enganosamente como religioso (nem isso é capaz de
ser ), arregimenta milhares dos seus
seguidores, todos de mesma espécie, piorando diariamente nossa condição diante
de um vírus mortal, que ceifou meio milhão de pessoas.
Governa na base da mentira. Tudo é mentira. Espalhou essa mentira por todo canto deste país. As redes sociais são seu principal instrumento de disseminação de ideias absurdas, que negam a racionalidade e submetem milhares de pessoas a um submundo irracional, movido a emoções desajustadas e que promovem toda sorte de discórdia e separação.
Sem citar que, de maneira assustadora, foi capaz de fortalecer uma moral que
estava sendo desconstruída com muita luta e resistência de grupos que até então
invisíveis, conseguiram de algum modo alcançar um espaço na dita sociedade
brasileira. Uma moral nefasta, desprezível, racista, homofóbica, machista que só
oprimiu e invisibilizou grupos inteiros.
Sabemos que esta moral sempre esteve presente em nossa sociedade. No
entanto, neste desgoverno, ela cresceu avalizada pelo representante da nação,
que incita todo tipo de maldade e desprezo contra todos os que não compactuam
com suas ideias.
Não sei como explicarei este tempo, no futuro. Na verdade, não sei nem se
haverá futuro. Retrocedemos tanto em tão pouco tempo, que fica quase impossível
traçar uma conjectura que possa sobrepor
o tempo perdido.
Talvez, em 2022 haja alguma mudança. Não sei ainda. As disputas continuam. De um lado está o
genocida, ávido por dinheiro, por mortes (ele disse durante a campanha que
queria 30 mil mortos e que a ditadura deveria ter matado mais. Ele ultrapassou
os 30 mil com louvor). Do outro estão grupos divididos, disputando espaço como
se houvesse neste contexto, espaço para ser disputado. Não se entendem. Não se
ajudam. Só fragmentam. É como se não enxergassem essa hecatombe. E ela, a
hecatombe avança. Impiedosa. Engolindo corpos, maltratando vidas.
“Como será o amanhã? Responda quem puder...”
Meu Deus, é exatamente isso. Enquanto a hecatombe avança, nós, os trabalhadores nos degladiamos pelos farelos que caem das mesas desses ordinários mandantes. Desgoverno é pouco. O brasileiro está órfão, cego e desamparado e o pior, cego de entendimento. Nadam em meio a lama do caos, sem saber que a força do seu braço, é que move a engrenagem dessa porcaria toda!!!
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