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quarta-feira, 30 de junho de 2021

Apartidarismo? Neutralidade ideológica? Inexistência de esquerda ou direita?




Clamor por consensos em prol da coletividade? Não tomar posição no cenário Político?
Interessante esse discurso e até bem intencionado.
Mas é utopia pura. Muito mais utópico do que o discurso da “igualdade” da esquerda e a “liberdade” da direita.
Porque a história prova por a+b que os conflitos existentes entre os seres humanos de forma geral, é exatamente esta pluralidade de idéias, de leituras das idéias, de posição ideológica enfim de diversidades.
Mas então podem me perguntar: e esta polarização: esquerda x direita, não é uma espécie de atrofia de idéias?
Não! Porque ambas as posições têm fundamentadas idéias diversas que se identificam e alguns aspectos e acabam consolidando uma ou outra extremidade... e até os “centro” se atraem para a direita ou esquerda, em virtude dessa “identificação”!
Então, concluo que esses discursos bem intencionados, ficam evasivos demais, sem um fundamento lógico, quando o assunto é ser humano. E ficam vulneráveis a assumir posturas até bem mais radicais que “esquerda” ou “direita”, exatamente o que aconteceu em 2018, quando elegeram o Bolsonaro.
Temos é que cair na real, nos identificarmos com um dos lados e tomarmos posição nesta eterna “luta de classes”. Porque é sim uma luta de classes!

E se tratando do atual contexto onde a vida está em jogo,

é até possível enxergamos um binômio ideológico  e

dentro dele, identificarmos classes divergentes mas

que em virtude do grau de comprometimento da

 existência humana neste país, tiveram que se unir ,

para combater o radicalismo da extrema direita: pois temos

de um lado vários grupos divergentes 

ideologicamente, mas convergentes quanto a importância

da vida humana: os que querem vacina, saúde, 

segurança, alimento, justiça, acreditam na ciência  

e do outro: quem não se importa com nada disso, 

sequer consigo mesmo e sua família, ao passo

que fortalecem o discurso negacionista

 em relaçãoa luta contra a pandemia. 


Logo, desça do muro. Pare de graça. Assuma sua posição no binômio.
 Ou você se importa com a vida
                                            humana, seja sua ou também a dos outros... 
                                                    ou você não se importa com nada. 

Apenas quer fazer ouvir sua voz, seja ela para morte,
 miséria e destruição. Pois em cima do muro, você não está. 
 



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A segregação no espaço concreto e virtual determinada pelo mundo pós-moderno: Fortificações concretas e digitais



disponível em : https://www.revistaponte.org/post/pos-modernidade-segrega%C3%A7%C3%A3o-espa%C3%A7o-concreto-virtual

As representações sociais se constituem através das interações em sociedade, uma vez que  grupos humanos compartilham o  espaço e consequentemente, o modo de vida. Sendo assim, essas interações estão em constante movimento e podem modificar-se ou serem enriquecidas, contribuindo para que não se tornem hegemônicas, o que ocorre quando ao contrário, estão apoiadas em estereótipos cristalizados originados de leituras equivocadas ou ainda, como reflexos das transformações da modernidade.

            Considerando esta perspectiva, constata-se que a modernidade nos contemplou com o aprofundamento da luta de classes, quando se refere à dinâmica do sistema produtivo. Por outro lado, a pós-modernidade aprofundou a segregação social dos espaços (concreto e virtual) ao passo em que fortaleceu a individualização do  sujeito,  não no sentido de indivisível, mas no sentido da indiferença entre eles,  principalmente em relação aqueles que sobrevivem nos centros metropolitanos, onde a face do sistema capitalista se mostra muito mais claramente que em regiões interioranas.  Ou seja, as novas visões de mundo e representações sociais impostas pelo contexto pós-moderno, refletiu de forma contundente no processo das interações sociais dos grupos mais afetados pelas grandes transformações dos séculos XIX e XX.

Até mesmo os espaços públicos foram dando lugar a espaços segregados de maneira a promover o isolamento dos sujeitos, em todos os aspectos da dinâmica da vida em sociedade e as interações que se estabelecem a partir dela.  Lazer, trabalho, escola, enfim, a maioria das estruturas que promovem as interações sociais foi se diferenciando e se separando de acordo com as visões de mundo e representações sociais dos grupos que compõem a sociedade heterogênea do século XXI.

O capital ou o dinheiro, em nome da liberdade e individualidade, limitou as relações sociais e as conduziu através de valores que determinam o valor humano. A disputa por status está presente no estilo de vida pós-moderno e de forma mais intensa, nas grandes metrópoles.  O consumo de bens e a posição que estes ocupam no ranking da modernidade, é o fator de diferenciação em relação àqueles que são definidos por “bem comum, ultrapassado ou obsoleto”, sendo que na escala hierárquica, quanto mais modernos e atualizados estarão sempre uma posição acima dos outros.

De forma imperativa, a pós-modernidade se apresenta através da razão, em detrimento à emoção. Quanto mais lógico, pragmático, ordenado, sistemático, mais moderno e superior. As sensibilidades neste contexto tornaram-se improdutivas e desnecessárias, uma vez que limitam as dimensões e atrasa o progresso, uma das palavras-chaves do mundo moderno.

A globalização, uma das consequências do advento da internet, ocupou espaço nas transações comerciais de grandes mercados (os chamados mercados digitais) e sutilmente, passou também a ocupar  espaço nas  interações sociais a longa distância, através das chamadas “redes sociais”.  Atualmente, o mundo virtual paralelo ao mundo concreto, tomou dimensões ilimitadas no que se refere à comunicação em massa, alcançando milhares de pessoas em tempo real e determinando o tom do diálogo na política, na religião, na cultura, economia.

Ratificando ainda mais as tendências pós-modernas, a pandemia do século XXI acabou por oportunizar ao sistema a possibilidade de automatizar ainda mais as relações e os vínculos entre trabalhadores, familiares e amigos de modo a conduzir as interações através do uso das redes sociais e das tecnologias em prol do isolamento social. E neste recurso, apesar de ser globalizado e considerado democrático, existe a formação dos grupos e a polarização de ideias que se dão de maneira mais clara, sem que impedimentos morais limitem visões de mundo, suplantando  até mesmo o que é considerado como consenso universal em direitos humanos, no mundo civilizado.

Formam-se comunidades e grupos que se identificam em algum aspecto ao passo que excluem aqueles que não se enquadram no perfil desejado.  Neste mundo virtual, é possível existir ataques e defesas, desmoralização e enaltecimento de figuras emblemáticas, divulgação de fatos verídicos e por outro lado, mentiras deflagradas com o propósito de confundir pessoas menos esclarecidas. Enfim, é como um mundo paralelo ao mundo concreto, polarizado, segregado, fragmentado, sob a alcunha da globalização, ou universalização da comunicação.

Há ainda a sensação de segurança, pois apesar da interação ocorrer, por ser em espaço virtual, o usuário acredita se resguardar da realidade pungente que no mundo real, concreto, não há como escapar com um bloqueio ou exclusão. Enfim, o mundo virtual pode ser comparado a uma espécie de “solidão acompanhada”, uma vez que apesar das interações sociais ocorrerem, existe a linha tênue entre os usuários, que é o aparelho, uma espécie de fortificação digital, como um muro de proteção entre a realidade concreta e o mundo virtual.

No entanto, quando se fala em segregação de espaço, fato é que muito antes das redes sociais se popularizarem e da pandemia acontecer, o sujeito pós-moderno já se encontrava solitário em meio a uma multidão de semelhantes. Na atualidade, toda a cadeia que lhe confere o status de ser social, contribui para este isolamento. Até mesmo o próprio planejamento urbanístico das grandes metrópoles reforça o fenômeno isolacionista.

A capital mineira, por exemplo, é o resultado de um projeto moderno onde a estrutura viária foi projetada como “veias e artérias” CALDEIRA (1997), otimizando o fluxo e centralizando os serviços na região central. Pela proposta, percebe-se que a cidade foi projetada para os funcionários públicos do Estado, pois a maioria dos espaços de lazer e trabalho possui ligação com as áreas reservadas a esta classe de pessoas. Porém, com o passar dos anos e sem uma política de acolhimento das famílias de baixa renda que trabalhavam na cidade e usavam todos os serviços públicos ali concentrados, passaram a estabelecer em seu entorno, inúmeras moradias de forma irregular. Foi então que a partir da década de 1970, com a expansão do espaço periférico em consequência da iniciativa de reformulação da capital belorizontina, tais famílias foram sumariamente “empurradas” para a região metropolitana, nas cidades vizinhas, inclusive históricas. Foram construídos para tanto, conjuntos habitacionais e loteamento de grandes áreas em acordo com as prefeituras daquelas cidades. Ou seja, o espaço urbano das grandes metrópoles, não foi projetado para as grandes aglomerações, para o intenso fluxo de trabalhadores assalariados, tão pouco para a interação social entre os variados grupos. A despeito disto, o aumento populacional e a falta de políticas de regulamentação e distribuição do espaço, na maioria das vezes submissa à especulação imobiliária, gerou o que CALDEIRA (1997) define como “segregação urbana”, consequência da criação de “enclaves fortificados”.

Estes enclaves, de acordo com a autora, são fenômenos que ocorreram em grandes cidades como São Paulo, por exemplo, que em virtude do processo de globalização, centralizaram na cidade os polos de transações comerciais e financeiras, em detrimento às regiões fabris que se destacavam até a década de 1980. O resultado foi a transformação urbanística que levou ao surgimento de cortiços e favelas, estabelecidos em fábricas e casas abandonadas e que segundo a autora, é uma das  causas da segregação do espaço urbano. Segregação que se consolida através do surgimento de condomínios como alternativa para separação das classes, os quais se estabelecem em áreas estratégicas, mas de maneira isolada, pois dentro deles encontram-se grande parte da rede de suprimentos para atendimento da demanda dos seus moradores. Demandas estas, relacionadas à suas próprias expectativas culturais, familiares, profissionais e a todos os outros aspectos que determinam seu posicionamento como ser social, como afirma SIMMEL (1973, p.13) ao se referir às mentalidades que se manifestam no estilo de vida pós-moderno, metropolitano:

“- pode-se deixar cair um fio de prumo para o interior das profundezas do psiquismo de tal modo que as exterioridades mais banais da vida estão em ultima análise, ligadas às decisões concernentes ao significado e estilo de vida”.

Portanto, a segregação do espaço, seja no mundo virtual, seja no mundo concreto, é a realidade do mundo pós-moderno. Em consequência, o ser social transformou-se em um ser solitário, que interage de forma autômata com seus grupos, obedecendo à lógica do sistema que determina seu estilo de vida de forma que este se sinta parte da sociedade. O sujeito está só, rodeado de uma multidão que ironicamente, também está. 

O mundo pós-moderno é um mundo de separações. Os sujeitos se identificam por seu modo de vida e ali estabelecem uma espécie de comunidade que coexiste com outras comunidades dentro de uma sociedade. Existem as comunidades dos trabalhadores os quais buscam sobreviver com o mínimo de dignidade, transitando entre os espaços públicos buscando apropriar-se deles, mas na maioria das vezes, sem sucesso. Existem as comunidades daqueles com maior poder aquisitivo, os quais criam seus próprios espaços, dentro do espaço público de modo a proteger-se daqueles que não se identificam com seu modo de vida e, portanto, não podem transitar em seus “territórios”, o que é garantido com segurança própria e apoio da segurança pública, em nome da lei e da ordem.

Existem também aquelas comunidades alternativas invisíveis para o Estado e para as comunidades abastadas, mas sempre presente como mão-de-obra a ser explorada. São as favelas, os cortiços, os sem teto.

Por fim, as cidades e as redes trazem consigo uma espécie de mosaico de povos, os quais buscam sobreviver em meio à dinâmica do sistema e as transformações constantes e que se impõe sobre o modo de vida da sociedade. E este modo de vida, tanto no mundo virtual quanto concreto, apropria-se da alteridade para a segregação, para o isolamento e exclusão do que é diferente, transformando sociedades em um conjunto de comunidades ou grupos rivais, polarizados e indiferentes àquilo que os torna semelhantes: a própria humanidade.

 

Autora: Marcia Fernandes da Cunha

Graduada em História e Mestranda em Educação e Docência pela FAE/UFMG

Artigo disponível em: https://www.revistaponte.org/post/pos-modernidade-segrega%C3%A7%C3%A3o-espa%C3%A7o-concreto-virtual

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 


AUGÉ, Marc. Não-Lugares: uma antropologia da supermodernidade. São Paulo: Papirus, 1996.

CALDEIRA; Teresa; Enclaves Fortificados: a nova segregação urbana; Março; 1997

LEFEVBRE, Henry. O Direito à Cidade. São Paulo: Centauro, 2006.

MARICATO, Erminia; Para entender a Crise Urbana; 1º ed., Ed. Expressão Popular; São Paulo; 2015

OLIVEIRA; Claudio Márcio; Deslocamento de trabalhadores em Belo Horizonte; elementos para pensar a educação na forma de acesso à cidade;2011.

SILVA, T. T. . Identidade e diferença: impertinências. Educação e Sociedade, São Paulo (SP), n.79, cap.2, 2002.

terça-feira, 29 de junho de 2021

A Hecatombe brasileira, Parte II - A morte e ressurreição de Lázaro.

 


    Mataram o Lázaro de novo. Só que desta vez, o Lázaro havia se transformado em serial Killer, em psicopata e até “macumbeiro” como diziam. Encontraram indícios de rituais satânicos na mata, segundo a polícia.  Mas, não adiantou.  Mataram o Lázaro de novo.

    E vão continuar matando os Lázaros, porque ele só serve para um propósito: fazer o serviço sujo.  Isso mesmo. E quem faz o serviço sujo, sempre leva a pior.

    Escolhem o Lázaro a dedos. Geralmente alguém sem estrutura familiar, sem cultura, sem empatia, sem condições de vida. Geralmente, alguém que não tenha nada a perder. Mesmo que tenha, o Lázaro geralmente acredita que não.

    E ele vai e faz o serviço sujo por algum dinheiro e continua fazendo, até que o matem.

    Mas o Lázaro, como diz a Bíblia, sempre ressuscita. E o serviço sujo continua.

    A polícia brasileira não quer saber quem é Lázaro, nem a mando de quem ele mata. A polícia só quer matar o Lázaro, porque a polícia brasileira, só sabe matar.

    Infelizmente, a realidade é que nossa polícia não tem a menor capacidade ou preparo para aprofundar em questões básicas sobre a vida de Lázaro, sua missão, suas ações, seu trabalho, seus patrões. E o pior, na maioria das vezes essa mesma polícia, também possui outros Lázaros em sua corporação, com outros nomes, mas milicianos e matadores de aluguel, iguais.

    Tem o caso do Lázaro já morto e ressuscitado, andando em bando de Lázaros, matando os índios Guarani Kaiowá, em 1953, lá no Mato Grosso do Sul! E continuou matando até que em 2011, dizimou quase uma tribo inteira! E seguiu matando família de pequenos agricultores cuja terra importa muito ao agronegócio. O Lázaro invade, mata famílias à machadada, a facão, à tiro de pistola. Enfim, ele mata.

    E foi morto de novo pela polícia. Porque sempre que ele compromete seus patrões, a ordem é matar. Mas quanta ironia, ele ressuscita rapidinho e continua “aterrorizando as famílias do interior”.

    Interessante é que a sociedade brasileira, assim como eles, tanto Lázaro quanto seus patrões e a polícia, não se satisfazem com o sangue derramado. a sociedade e a polícia até ficam consternados pelas famílias mortas por Lázaro, mas quando têm a chance de ver o corpo dele cravado por “trocentas” balas, batem palmas e se sentem aliviados, pois Lázaro morreu. Agora estão felizes.

    Só não conseguem nunca e jamais vão conseguir compreender como funciona essa história do Lázaro. Não sei se por ingenuidade, por ignorância, ou por omissão. Pois continuam fechando os olhos para o óbvio,  batendo palma para a polícia assassina e omissa e em alguns casos até cúmplice, quando esta lhes oferece o corpo perfurado do Lázaro, ou aquele sem cabeça do Lázaro travestido de Lampião, dizendo que o problema acabou. Podem dormir tranquilos.

 Pois é. Mas, logo, logo, ele ressuscita e teremos espetáculo de novo.

 Aguardemos.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

A Hecatombe brasileira...Parte I


 

imagem disponível em : https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi71VSihqxezGAD-Q7LhXCnbY8mdNbiWsVn_XWCR2pgJ_kCWx63S_d1AFpfLt5eajFkQcLMBbT2clbGmw33q9594AZoO2VOlV78a6-uKiVRCyMGfjZVQK9gTH2Yuw_z8Wete_b3e_ac1fY/w1200-h630-p-k-no-nu/Digitalizar0097.jpg

 

         Como professora de história, fico me imaginando daqui a dez, quinze anos em sala de aula. 

            Como vou explicar este tempo, num futuro incerto? 

        Incerto porque não sabemos hoje o que nos virá daqui a um mês, que dirá daqui a alguns anos,  já que desde o golpe contra o governo da Presidenta Dilma, o que experimentamos foi uma espécie de hecatombe, anunciada, diga-se de passagem. 

        Não que estivéssemos indo maravilhosamente bem com o governo petista. Mas sem dúvida alguma, qualquer outro governo fora o atual e o antecessor golpista, supera qualquer desgoverno brasileiro ou até mesmo mundial, levando em conta o saldo nefasto que estamos amargando desde que Temer e Bolsonaro assumiram o governo, respectivamente. 

        Me lembro que há 13 anos, os comentários que permeavam minha linha do tempo no facebook, eram sobre a crise imobiliária nos EUA e suas consequências para aquele país e para os países da Europa, cuja economia dependia diretamente do turismo. A Grécia que o diga, pois foi um dos países mais afetados. Aqui no Brasil, falávamos e replicávamos a famosa “marolinha” , que “não daria nem pra esquiar” como dizia Lula.

        Mas não foi nem de longe uma marolinha. Não imaginávamos que seria uma hecatombe e que uma década mais tarde, estaríamos diante de um governo que, aproveitando-se das consequências da crise mundial, se vendeu às aspirações mais nefastas do mercado internacional. Perdemos em pouco tempo, o que levamos décadas e mais décadas para construirmos. Foi um desastre o que nos aconteceu. Nem mesmo a chamada década perdida, com toda aquela instabilidade e aumento de dívida interna e externa, promoveu tamanha desgraça ao nosso país, como tem feito este governo. Antes estivéssemos convivendo com remarcações de preços, com déficit de contas públicas, com precarizações de todo tipo, mas que de algum modo, nos permitia acreditar que haveria em algum momento uma saída, como ocorreu com o plano real, após vários planos falidos e malfeitos. Não. Este governo que chamarei daqui em diante de desgoverno, não nos permite enxergar uma “luz” lá no finalzinho do túnel! A causa ambiental, a indígena (absurdamente querem com uma MP estabelecer marco temporal, contra a própria constituição de 1988), a causa trabalhista, enfim, são ataques de todos eles, por todos os lados. 

        Seus ministros, sem exceção alguma, são de um primitivismo de fazer inveja a qualquer protozoário (que me perdoem os protozoários por esta ofensa). Não possuem qualquer organização, qualquer qualificação técnica, qualquer formação ética, ou qualquer outro aspecto humano que determina a diferença entre um ser racional e uma ameba.

        Não possuem um projeto sequer. Não se organizam. Não são capazes de comunicarem entre si, de tentar de algum modo compreender um ao outro para que juntos, pudessem ao menos tentar se organizar em meio a tanto desmando.

        E para piorar nossa desgraça, uma PANDEMIA que em qualquer outro país, por mais pobre ou subdesenvolvido que seja, foi capaz de estabelecer o mínimo de consenso entre os gestores públicos, no que tange a protocolos de higiene e isolamento social. Mas aqui não. Aqui , nosso governo é pró-pandemia. Ele é negacionista. Se apresenta enganosamente como religioso (nem isso é capaz de ser ),  arregimenta milhares dos seus seguidores, todos de mesma espécie, piorando diariamente nossa condição diante de um vírus mortal, que ceifou meio milhão de pessoas.

        Governa na base da mentira. Tudo é mentira. Espalhou essa mentira por todo canto deste país. As redes sociais são seu principal instrumento de disseminação de ideias absurdas, que negam a racionalidade e submetem milhares de pessoas a um submundo irracional, movido a emoções desajustadas e que promovem toda sorte de discórdia e separação. 

        Sem citar que, de maneira assustadora, foi capaz de fortalecer uma moral que estava sendo desconstruída com muita luta e resistência de grupos que até então invisíveis, conseguiram de algum modo alcançar um espaço na dita sociedade brasileira. Uma moral nefasta, desprezível, racista, homofóbica, machista que só oprimiu e invisibilizou grupos inteiros.

       Sabemos que esta moral sempre esteve presente em nossa sociedade. No entanto, neste desgoverno, ela cresceu avalizada pelo representante da nação, que incita todo tipo de maldade e desprezo contra todos os que não compactuam com suas ideias.

        Não sei como explicarei este tempo, no futuro. Na verdade, não sei nem se haverá futuro. Retrocedemos tanto em tão pouco tempo, que fica quase impossível traçar uma conjectura  que possa sobrepor o tempo perdido.

        Talvez, em 2022 haja alguma mudança. Não sei ainda. As disputas continuam. De um lado está o genocida, ávido por dinheiro, por mortes (ele disse durante a campanha que queria 30 mil mortos e que a ditadura deveria ter matado mais. Ele ultrapassou os 30 mil com louvor). Do outro estão grupos divididos, disputando espaço como se houvesse neste contexto, espaço para ser disputado. Não se entendem. Não se ajudam. Só fragmentam. É como se não enxergassem essa hecatombe. E ela, a hecatombe avança. Impiedosa. Engolindo corpos, maltratando vidas.

        “Como será o amanhã? Responda quem puder...”