Os caminhões dos sindicatos, sempre animando a “galera” com
músicas revolucionárias e voluntários que se alternavam ao microfone, sempre
com palavras de ordem, de ânimo para a luta.
Nós estávamos próximos ao sindicato dos metalúrgicos. Aquele
sindicato do “Paulinho da força”, o qual se uniu ao golpe e acabou eleito para
deputado federal. Claro, mais um envolvido em desvio de vergas em que a Globo
conta, foi “utilizado para promover cursos profissionalizantes para
desempregados”. O que a Globo não conta é que o FAT – Fundo de Amparo ao
Trabalhador, é uma máquina de desvio de verbas e pagamento de propina. Mas isso
fica para uma outra hora.
Voltando, o sindicato dos metalúrgicos, bem próximos ao
caminhão da CUT onde estava a Beatriz Cerqueira, promoveu um duelo de
discursos. De músicas. De gritos de guerra. Beatriz, com sua capacidade
impressionante de reconhecer quando a coisa extrapola o limite do razoável,
pediu ao interlocutor do caminhão dos metalúrgicos, para que se afastasse um
pouco, pois os manifestantes não conseguiam entender nem um nem outro. Eu ri.
Dei gargalhadas para ser mais sincera. Achei tão patético essa postura de ambos
os lados, que não tive outra reação. Mas, o embate durou por cerca de meia
hora. Durante esse tempo, transitei entre os manifestantes do Paulinho e
perguntei aonde ele estava: “uai...kd o Paulinho gente?”. Não me respondiam.
Pelo contrário, fechavam a cara como se me dessem o recado: saia daqui antes
que a coisa esquente.
Mas tudo bem. Voltei para os meus e continuamos a “luta”.
Tirei fotos com movimentos sociais variados. O MST foi o que mais gostei. Uma
senhorinha com rosto cansado, sentada ao chão segurando a bandeira do
movimento, topou posar comigo para o selfie. Lá fui eu, minha colega de luta e
a senhorinha. A foto ficou “chic” demais, está aí na galeria. Confira.
Quando iniciamos o trajeto até o planalto, me senti uma
genuína revolucionária! Debaixo de um sol escaldante, com fome, sem banho,
pernas doendo, seguia cantando e caminhando; ou seria o inverso? Mas o
importante é que eu estava ali, participando daquele momento histórico
maravilhoso. Umas cento e cinquenta mil pessoas, gritando palavras de ordem, dispostos
e acampar no espelho d’água em franca luta por manter seus direitos!
Mas, ao chegarmos na esplanada, eis que se misturam aos
manifestantes de vermelho, verde e amarelo, um grupo razoável de adolescentes franzinos,
carregando paus, portando máscaras e com cara de pouco amistosos. Passaram por
nós e meu coração acelerou ainda mais: são os “black blocks”. Foram direto para
o lado direito do espelho d’água. Não deu dez minutos, começou a correria. As
bombas. Os gritos. Era uma multidão vindo em minha direção, além da fumaça do
gás de pimenta, o qual ardeu minha cara e minha garganta de forma que me fez
pensar que morreria asfixiada. Meu colega coitado, dizia, vamos...vamos... mas
ao avistar a fumaça e sentir seus efeitos, corríamos junto com a multidão, pra
longe dela.
No entanto, um grupo de manifestantes continuava a seguir e
tentar entender o que acontecia. Segundo informações, os manifestantes com
bandeiras, desarmados e sem pedras, “quebraram vidraças” e tentaram colocar
fogo em um dos prédios. Ué, pensei eu: sério? Não. Não era sério. Era piada
pronta. Os “blacks” armados e protegidos por máscaras, o fizeram. E a Guarda
avançou sobre nós, os manifestantes.
Eu não precisei seguir pra entender. De onde estava vi que
tudo não passava de um teatro. Como sempre. De uma armação bem articulada de
todos os lados. De uma situação corriqueira neste país de bananas.
Os blacks, representando o governo, as centrais sindicais,
representando os que representam o governo. Ou seja, tudo era governo.
Eu era governo. A bomba, era governo.
Foi um fiasco. Não digo que quem estava ali, quem se dispôs
a passar fome e frio, falta de banho, tinha participação voluntária ao teatro,
ao circo armado. Mas afirmo que toda essa articulação não passou de mais um
golpe.
Por que? Simplesmente porque o cara continua lá. O congresso
nacional e o senado continua aprovando tudo. Arquivando crimes de senadores,
deputados. Os sindicatos continuam com as micaretas apoiados pelas centrais. E a nossa greve, nosso esforço, só fortaleceu
o governo golpista. Desmotivou gente que como eu, luta desde adolescente por
justiça social. Porque hoje, as plenárias, as deliberações dos sindicatos,
discutem a “bandeira” que irão assumir nas manifestações e não a pauta nacional.
Chega ao absurdo de em uma plenária, representantes de partidos políticos de esquerda,
invocarem embates entre a esquerda, para ver quem tem mais razão. E nesse tempo,
a direita continua firme, articulada, forte, engajada na destruição de nossa
economia, de nossos direitos. E o povo continua “parado, com cara de veado que
viu caxinguelê”.
Mas, pelo menos fiz uns “selfies”.
A luta? Ah, continua. Fazer o quê né?
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