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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Viagens pelo Atlântico...



Estou acompanhando desde o princípio as manifestações do outro lado do Atlântico... naquele continente pra lá de exuberante e por tabela, palco de inúmeros conflitos, desde políticos quanto étnicos e religiosos.

Falo da “Mãe África”

É de se admirar as insurgências africanas em relação aos líderes ditadores, quase que “perpetuados” no poder por imposição, os quais dominaram  uma geração inteira de jovens que nasceram e sobrevivem debaixo de um regime que em momento algum, direcionou qualquer investimento em áreas sociais e ainda, promoveu a doutrinação ideológica em nome de uma falsa  austeridade que por sua vez, num paradoxo gritante, é desmentida com ostentações e luxos presentes o tempo todo na vida destes “líderes”.

Mas voltando da travessia do Atlântico, comentando com um amigo hoje no MSN inclusive, me lembrei de manifestações aqui no Brasil, logo após a abolição da escravatura e proclamação da República... contextualizando na linha do tempo... final do século XIX início do XX... 

Algumas manifestações populares, ocorridas no nordeste (Canudos), Centro oeste (Santa Dica), Sul com o Contestado ..estas em regiões rurais e sertões...e a revolta da Vacina... da Chibata... ambas consideradas sociais urbanas, traduzem exatamente o que a opressão, o domínio implacável ,o descaso , a negligência, o vilipêndio por parte de líderes pode incitar no coração humano.

Citando  Canudos. Uma revolta de caráter religioso porém carregada de ideais políticos, mesmo sendo seu mentor considerado um leigo no que diz respeito ao conhecimento da constituição e da ideologia republicana,  Canudos é sim, a expressão literal do sentimento de repulsa ao desgoverno e ao mesmo tempo, de carência por uma vida melhor por parte das vítimas, ou seja: o povo, a massa. 

 Antônio Conselheiro, o mentor, o pregador, conseguiu atrair vários seguidores com palavras de conforto espiritual, em um contexto onde a miséria, a fome, o desgoverno e a negligência  de líderes republicanos impuseram à uma sociedade inteira, o mais terrível das ações humanas: o desprezo.  

Conseguiu através de Canudos, uma fazenda invadida (seria o início do MST? rs) construir uma comunidade onde tudo era de todos, onde não havia concorrência e que a dignidade era uma realidade que não se encontrava somente em discursos republicanos , mas na vida de quem se dispunha a lutar por seu espaço, sem tomar o espaço do outro.  Canudos foi invadida, saqueada, mutilada, seus moradores foram degolados – mulheres e crianças inclusive – mais de 40 mil pessoas... em nome da República... da família.. da pátria... da Igreja... me lembrei das doutrinas integralistas... rs

Eu sei que tem gente que lendo isso vai torcer o bico, dizendo que isso é análise de comunista e comunista...como dizem os integralistas...não prestam...

Mas é imprescindível deixar aqui uma espécie de homenagem com um certo saudosismo de quem não viveu a luta de canudos, mas a reconhece nos olhos de cada brasileiro que  acorda cedo, sai pra trabalhar ganhando um salário miserável  de R$ 545,00 (finalmente), pagando impostos o tempo todo ate pra tossir... e ainda não tem saúde de qualidade, educação de qualidade, não é visto nem contado como base de sustentação da economia deste gigantesco país... e que a duras penas conta finalmente com a ajuda inédita de um governo,  que ainda assim,  insiste em utilizar-se das políticas sociais para garantir sua “Perpetuação no poder”( dos males o menor, já foi muito pior com o governo tucano) e ainda, um povo  manipulado o tempo todo pela mídia que mascara as realidades com os BBB”s e novelas globais da vida... mas que enfim...no fundo...lá no fundo... aguarda um Antônio Conselheiro, que os lidere e os ensine a construir uma “Canudos”, que promova melhores condições de vida e consolide a igualdade de direitos.

Voltando pro outro lado do Atlântico... lá não tem Canudos... mas tem coragem, tem determinação... tem juventude politizada... 

Claro que o contexto  lá favorece a guerra civil, já que não vivem em uma democracia... mas que essa manifestação no Egito, na Líbia... e a história de Canudos...sirva como um exemplo pra brasileiros que continuam insistindo em não lutar por seus direitos.
Em uma frase de Euclides da Cunha, ele tenta mandar essa mensagem para as gerações posteriores: “Canudos não se rendeu”. 

“Canudos é um exemplo de persistência e perseverança, de um povo que preferiu a morte a ter que renunciar a uma vida humilde, porém digna e igualitária”.
“Canudos demonstra que é possível sim a construção de uma sociedade onde todos tenham os mesmos direitos e onde o homem possa ser mais sem que para isso tenha que transformar o seu semelhante em menos”.


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