Desde 2012, tenho publicado aqui neste blog, vários textos a respeito do avanço da ultra direita no Brasil e no mundo.
E desde 2012, mais especificamente, a Europa tem sinalizado o crescimento dos partidos nacionalistas de extrema direita.
Na França, berço da Revolução Francesa por exemplo, partidos nacionalistas como o Le Pen, alcançaram votação expressiva nas eleições de 2012.
Já na Ucrânia, também em 2012, o partido Svoboda, de extrema direita, alcançou espaço político, convocando grupos sociais conservadores, com discursos nacionalistas e extremistas sob a bandeira anticorrupção. Conseguiram depôr o governo e dominaram o poder no país.
Aqui no Brasil também passamos por algo parecido. Em 2013. Sob a bandeira dos "0,20 centavos", mobilizou-se uma grande manifestação por todo o país, a qual foi ganhando corpo a medida em que grupos políticos se aproveitavam para engrossar o coro dos "descontentes". Cheguei a postar neste blog uma análise bem primária sobre as manifestações, pois no olho do furacão, costumamos ficar míopes...Em um trecho de um dos textos, transcrito abaixo, chego a fazer uma espécie de "previsão", apesar que estava tudo muito óbvio, mas minha visão míope ainda não enxergava:
"Estão gritando nas ruas que chegou o tempo de mudança. Querem respostas...estão amadurecidos. Não querem continuidades mascaradas de rupturas...aquelas em que mudam personagens, mas o enredo é o mesmo.
O problema é a massa inculta que adere a movimentos espontâneos e sem critérios...movimentos estes que deturpam a originalidade da ação... causando reações perigosas, pois se transformam em "celeiros" para oportunistas.
Mais indignação, menos irresponsabilidade.
Pense antes de compartilhar frases, postagens que não representam realmente a voz desta manifestação."
Mas, passado algum tempo, foi possível compreender quais foram as forças políticas que utilizaram-se de movimentos sociais e pautas legítimas, para promover um dos maiores golpes na história deste país.
É complicado como historiadora, usar a palavra "golpe", mas aqui, não estou analisando os fatos como historiadora, estou usando-os para conceber uma visão política que se aproxime o máximo possível do contexto que estamos atravessando: a eleição de Bolsonaro.
Pois bem. O que há em comum entre Brasil, Ucrânia, França, enfim, a Europa e os movimentos de extrema e ultra direita? Neste texto, vou chamar de maneira hollywoodiana, de "A Origem". A questão é que aqui, como sempre foi a "história" toda, quase todos os processos de ruptura ou continuísmo, se caracterizam pelo avesso. Se não são ao avesso, são aos trancos e barrancos. Se não aos trancos e barrancos, são a versão comédia das coisas sérias que acontecem no mundo. Digo isto, me lembrando da nossa "Monarquia Constitucional" , da "extinção" da escravidão e o processo que a envolveu, a "proclamação" da nossa República e por aí vai, porque se for pautar de Getúlio pra cá, entraremos em pânico ao perceber que realmente somos muito atrapalhados em relação ao resto do mundo.
Voltando à ascensão da direita e extrema direita na Europa e no Brasil, fato é que aqui, os grupos conservadores enxergaram no bipartidarismo PT X PSDB, o qual protagonizou uma luta ferrenha no legislativo e executivo, com anuência do judiciário, a oportunidade de chegar ao executivo nacional e colocar em prática todas as suas mais fantasiosas e nocivas ideologias, desde questões de gênero à movimentos sociais. Mas, como se deu tudo isso? Acredito que, enquanto Aécio, todo choroso e derrotado pelo PT em mais uma eleição, pirraçava e esbravejava contra Dilma no senado, e por outro lado o PT, vitorioso, acima do bem e do mal, como se nada o abalasse além do incômodo choro alto do oponente, os direitistas foram se infiltrando e lançando ideias nacionalistas, anticorrupção e cheias de moralismos retrógrados, mas que atendem bem à sociedade provinciana que se constituiu desde o império.
Mas, "A Origem" não se importa com nada disso. Não se importam com gays, com negros, nem com marxismo ou comunismo. "A Origem" só enxerga nossas riquezas naturais, nosso petróleo, nióbio, água, ouro, minério, mão de obra, assim como enxergava o gás da Ucrânia. o petróleo da Líbia, da Síria, do Iraque. "A Origem" está preocupada com o avanço da China e Rússia no mercado internacional.
Enfim, sinto vergonha da nossa direita. Chegaram a comparar o Bolsonaro a Hitler, mas ele não chega sequer a unha do dedão do pé do austríaco. Dissemos que ele é fascista, mas nem pra fascista ele serve. Fato é que a nossa direita, não é real. Ela é subserviente. Serve a quem serve alguém. E aí sim, esse "alguém', "A Origem", essa "organização" que nos submeteu a este golpe, a este governo patético, é ela que de fato preocupa. Porque esse "alguém" nem ideologia tem. Possui apenas conta bancária. E deseja dividendos. Deseja capital. Bolsonaro é só um laranja... assim como o motorista dele, o Queiroz. Um laranja que, oportunamente, foi conduzido ao cargo mais importante da nação mais rica em recursos naturais do planeta, em nome da "direita", da religiosidade, da moral e "bons costumes". E assim como os demais fantoches de "A origem", Bolsonaro cairá, de maneira vergonhosa e entrará para a história como o político mais atrapalhado e patético da história do Brasil.
só lamento, não por ele...mas por nós.