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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O POBRE NA CHUVA...e a culpa é do papai noel...




 Aqui em Minas tem um ditado muito antigo e comum entre mineiros. Quando uma pessoa fala muito, reclama muito da vida, costumamos dizer que “ela fala igual ao pobre na chuva”. Alguns riem, outros concordam...mas a realidade é que existem poucos lamentos no mundo tão sofridos quanto o lamento de um pobre na chuva.

Já rendeu piada eu sei (dizem que pobre nunca tem nada, mas quando chove diz que perdeu tudo), e que rende boas gargalhadas nas rodinhas dos bares...

Mas, apesar do ditado, das piadinhas, a situação do pobre na chuva é lastimável.

Hoje acordei cedo e assisti na tv Record, uma reportagem sobre os alagamentos dos bairros Primeiro de Maio e Ribeiro de Abreu, que ficam próximos à Av. Cristiano Machado. E fiquei pensando: todo ano é a mesma coisa! É a mesmíssima situação. São pessoas que moram há anos e anos em áreas de risco e que todo ano passam pelas mesmas tragédias... sem qualquer perspectiva de um futuro melhor.

E aí, logo em seguida, anunciam que a câmara dos vereadores de Belo Horizonte, acabou de aprovar nas vésperas do Natal como presente do tal papai noel (em minúsculo de propósito), um aumento de 60%  em seus gordos salários. Imagino  felizes os vereadores, enquanto a população que os elegeu, luta para tirar de casa a lama, a água suja ao passo que conta com a ajuda de Deus para que seus filhos não venham contrair doenças incuráveis.

É revoltante! Os repórteres mencionam governos anteriores,  dizendo que o governo atual pegou um “pepino”. Eu fiquei mais revoltada ainda. Como assim? Então todos os governos que por aqui passaram, de vereadores, prefeitos, governadores, senadores... pegaram o tal pepino e sequer fizeram salada dele? Então a coisa é assim. Este pegou um pepino, o próximo pegará o pepino do anterior...e o pepino continua circulando de mão em mão...e o povo mergulhado na lama, na sujeira...

Os repórteres disseram também que o povo joga lixo em bueiros... os chamaram de “mal educados”... é, mas o lixo no bueiro não é causa é conseqüência.

Conseqüência da "verdade que assombra e do descaso que condena", como bem disse Renato Russo. Conseqüência de uma política excludente, que há anos atrás, lá na década de 20, expulsou dos grandes centros o pobre, que “sujava a cidade”. Jogaram para os “bueiros” da periferia, pessoas que se viram obrigadas a se estabelecer em locais sem qualquer infraestrutura. Conseqüência da urbanização não planejada, da negligência dos governos, do descaso das prefeituras que insistem em jogar perfume na cidade, mas não lhe dão banho (como dizia meu velho pai já falecido).

E o que o papai noel tem com isso? Papai noel é o culpado de tudo. Ele representa os extremos das relações em uma sociedade humana. De um lado, pessoas felizes, programando um natal regado a vinho, espumante, com carnes suculentas, doces, presentes, árvores de natal... e do outro...ahhh e do outro este povo pobre, na chuva, chorando, enlameado, sem dignidade, sem perspectiva de vida, sem sequer uma satisfação por parte destes governos indecentes que sempre trataram a população mais carente como problema a ser ignorado e não resolvido.  
Papai noel é o símbolo deste sistema vergonhoso, que conseguiu deturpar completamente o verdadeiro sentido do natal (Jesus, aquele que pregou no monte, aquele que era pobre e humilde e que amava os pobres e humildes, com certeza despreza este natal capitalista).

Mas a vida é assim... posso parecer pobre na chuva, mas só peço uma coisa: não me desejem “feliz natal... hôhôhô”...

Enquanto existir esta separação,esta desigualdade, não será possível existir Natal...


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

PRIVATARIA TUCANA... Cadê a Mídia? Cadê o PSDB...pior, Cadê o PT??

Privataria Tucana...e a mídia mafiosa...

Por Gilberto Maringoni * (Carta Maior)

Midia não sabe o que fazer com “privataria”

Um curioso espírito de ordem unida baixou sobre a Rede Globo, a Editora Abril, a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e outros. Ninguém fura o bloqueio da mudez, numa sinistra brincadeira de “vaca amarela” entre senhores e senhoras respeitáveis. Como ficarão as listas dos mais vendidos, escancaradas por jornais e revistas? Ignorarão o fato de o livro ter esgotado 15 mil exemplares em 48 horas?

Há uma batata quente na agenda nacional. A mídia e o PSDB ainda não sabem o que fazer com A privataria tucana, de Amaury Ribeiro Jr. A cúpula do PT também ignora solenemente o assunto, assim como suas principais lideranças. O presidente da legenda, Rui Falcão, vai mais longe: abriu processo contra o autor da obra, por se sentir atingido em uma história na qual teria passado informações à revista Veja. O objetivo seria alimentar intrigas internas, durante a campanha presidencial de 2010. A frente mídia-PSDB-PT pareceria surreal meses atrás.

Três parlamentares petistas, no entanto, usaram a tribuna da Câmara, nesta segunda, para falar do livro. São eles Paulo Pimenta (RS), Claudio Puty (PA) e Amaury Teixeira (BA). O delegado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) começa a colher assinaturas para a constituição de uma CPI sobre os temas denunciados no livro. Já o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) indagou: “Nenhum jornalão comentou o procuradíssimo livro A privataria tucana. Reportagens sobre corrupção têm critérios seletivos?”
O silêncio dos coniventes

O silêncio maior, evidentemente, fica com os meios de comunicação. Desde o início da semana passada, quando a obra foi para as livrarias, um manto de silêncio se abateu sobre jornais, revistas e TVs, com a honrosa exceção de CartaCapital.
As grandes empresas de mídia adoram posar de campeãs da liberdade de expressão. Acusam seus adversários – aqueles que se batem por uma regulamentação da atividade de comunicação no Brasil – de desejarem a volta da censura ao Brasil.
O mutismo sobre o lançamento mais importante do ano deve ser chamado de que? De liberdade de decidir o que ocultar? De excesso de cuidado na edição?
Um curioso espírito de ordem unida baixou sobre a Rede Globo, a Editora Abril, a Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e outros. Ninguém fura o bloqueio da mudez, numa sinistra brincadeira de “vaca amarela” entre senhores e senhoras respeitáveis. Que acordo foi selado entre os grandes meios para que uma das grandes pautas do ano fosse um não tema, um não-fato, algo inexistente para grande parte do público?
Comissão da verdade

Privatização é um tema sensível em toda a América Latina. No Brasil, uma pesquisa de 2007, realizada pelo jornal O Estado de S. Paulo e pelo Instituto Ipsos detectou que 62% da população era contra a venda de patrimônio público. Nas eleições de 2006, o assunto foi decisivo para a vitória de Lula (PT) sobre Geraldo Alckmin (PSDB).
Que a imprensa discorde do conteúdo do livro, apesar da farta documentação, tudo bem. Mas a obra é, em si, um fato jornalístico. Revela as vísceras de um processo que está a merecer também uma comissão da verdade, para que o país tome ciência das reais motivações de um dos maiores processos de transferência patrimonial da História.
Como ficarão as listas dos mais vendidos, escancaradas por jornais e revistas? Ignorarão o fato de o livro ter esgotado 15 mil exemplares em 48 horas?

O expediente não é inédito. Há 12 anos, outra investigação sobre o mesmo tema – o clássico O Brasil privatizado, de Aloysio Biondi – alcançou a formidável marca de 170 mil exemplares vendidos. Nenhuma lista publicou o feito. O pretexto: foram vendas diretas, feitas por sindicatos e entidades populares, através de livreiros autônomos. O que valeria na contagem seriam livrarias comerciais.

E agora? A privataria tucana faz ótima carreira nas grandes livrarias e magazines virtuais.
Deu no New York Times

O cartunista Henfil (1944-1988) costumava dizer, nos anos 1970, que só se poderia ter certeza de algo que saísse no New York Times. Notícias sobre prisões, torturas, crise econômica no Brasil não eram estampadas pela mídia local, submetida a rígida censura. Mas dava no NYT. Aliás, esse era o título de seu único longa metragem, Tanga: deu no New York Times, de 1987. Era a história de um ditador caribenho que tomava conhecimento dos fatos do mundo através do único exemplar do jornal enviado ao seu país. As informações eram sonegadas ao restante da população.
Hoje quem sonega informação no Brasil é a própria grande mídia, numa espécie de censura privada. O título do filme do Henfil poderia ser atualizado para “Deu na internet”. As redes virtuais furaram um bloqueio que parecia inexpugnável. E deixam a mídia bem mal na foto…